segunda-feira, 2 de junho de 2014

MARLOS: O FUTURO COMEÇA HOJE

Ele, Marlos Costa

Hoje, às 19 horas, no Clube Tamoio, o vereador Marlos Costa, uma das maiores lideranças políticas de São Gonçalo atualmente, fará a sua já tradicional prestação de contas do mandato, o segundo consecutivo, numa trajetória que começou em 2008 com sua primeira vitória ao parlamento municipal.

Após seis anos de mandato, o parlamentar morador do Alcântara e rubro-negro roxo, se sente seguro para voos mais altos, mas precisamente ao Congresso Nacional, na capital do país. Hoje, também, será anunciada sua pré-candidatura a deputado federal, o que dará ao evento, e ao próprio Marlos, uma sensação de rito de passagem. 

Ele se sente preparado para este enorme desafio e responsabilidade. Porém, este sentimento não parte de uma percepção pessoal, mas da classe política, tanto entre adversários e correligionários; de parcela expressiva da sociedade civil organizada, que teve no vereador um interlocutor confiável e aliado em questões importantes para a cidade. VEJA AQUI AS LEIS APROVADAS.

Na Câmara de Vereadores, a sua formação como advogado e técnico do Tribunal de Contas do Estado o ajudaram a encarar com tranquilidade a inexperiência de marinheiro de primeira viagem. Em 2009, não teve dificuldade em assumir a importante comissão de Constituição e Redação, assim como também não titubeou em aceitar ficar à frente da comissão de Educação, tema caro ao parlamentar e à sua esposa, Cristiane Fiuza, professora de História, conhecedora por dentro dos problemas da área.

Em 2010, em meio à tragédia das enchentes que assolaram a cidade, Marlos teve sangue frio em lidar com uma situação que afetara diretamente a sua família no bairro Jardim Catarina, fortemente castigado. Transformou a Câmara numa referência das ações que seriam tomadas pelo governo do estado naquele momento difícil em que a prefeitura se encontrava paralisada. Conseguiu articular com o secretário do Ambiente à época (Carlos Minc) um plano emergencial de assistência à cidade que tem desdobramentos até hoje com ajuda do governo federal.

Se aproximou, com forte convicção democrática, dos ainda incipientes movimentos sociais organizados de diversas áreas, dialogando, assimilando as suas demandas com vista a consolidá-los e assim se tornarem forças políticas legítimas nesse novo cenário que surge no horizonte político brasileiro. "Um dos maiores problemas de São Gonçalo é a ausência de uma sociedade civil organizada forte e consolidada", sempre dizia. Para o nosso bem, esse panorama começa a mudar, com a sua ajuda.

Vejo em Marlos todas as qualidades técnicas e principalmente políticas que esse novo momento brasileiro exige. A nossa cidade e todo o leste fluminense agradecem uma desejada vitória de Marlos em 5 de outubro próximo. A caminhada à vera começa em julho, mas hoje será um passo importante e definitivo para o nosso futuro. Sorte ao vicentino e rubro-negro Marlos Costa.








domingo, 20 de abril de 2014

ACABOU O QUE NEM COMEÇOU?

 


Um acontecimento histórico, entre 280 e 279 aC, sobrevive até os dias de hoje e persegue principalmente os ambiciosos desmesurados cegos pelo seu próprio desejo. Refiro-me à Batalha de Heracleia, na Guerra Pírrica, que recebeu este nome em função do rei de Épiro, Pirro.

Sobre esta batalha, Plutarco, historiador romano de origem grega, registra um relato de outro historiador, também grego, Dionísio de Halicarnasso:
"Os exércitos se separaram; e, diz-se, Pirro teria respondido a um indivíduo que lhe demonstrou alegria pela vitória que "uma outra vitória como esta o arruinaria completamente". Pois ele havia perdido uma parte enorme das forças que trouxera consigo, e quase todos os seus amigos íntimos e principais comandantes; não havia outros homens para formar novos recrutas, e encontrou seus aliados na Itália recuando. Por outro lado, como que numa fonte constantemente fluindo para fora da cidade, o acampamento romano era preenchido rápida e abundantemente por novos recrutas, todos sem deixar sua coragem ser abatida pela perda que sofreram, mas sim extraindo de sua própria ira nova força e resolução para seguir adiante com a guerra."
Todos os gonçalenses atentos à sua própria cidade acompanharam o desenrolar da campanha de 2012 e podem testemunhar o esforço do candidato pelo PR, Neilton Mulim, em se tornar prefeito de São Gonçalo. Foi uma vitória apertada no primeiro tento sobre a deputada Graça Matos, esta então o apoia no segundo turno junto a outros atores políticos importantes que então se opunham ao candidato da prefeita Aparecida Panisset, seu pupilo sorongo Adolpho Konder.

Já sacramentados os acordos de gabinete, - que pelo bem da moralidade nunca serão postos ao torvelinho público - restava ao antagonista do panissetismo segurar firme o vento a seu favor e tornar crível o conto de fadas de suas promessas acreditando que jamais seria cobrado por elas. Afinal, desde Quinto Cicerón, sabemos que promessas numa campanha são para alimentar esperanças nos eleitores, não necessariamente para serem cumpridas.

E, assim, o Cícero desta freguesia, que foi aluno aplicado de Quintus Garotinho, nos encheu de esperança os nossos corações com a tarifa de transporte a UM E CINQUENTA e com o reajuste linear de todo o funcionalismo público a 20%. Foi eleito, claro. Eleito com os votos das gentes crentes no barateamento do transporte, com o fim da corrupção, no desmantelamento da 'república abençoada', na criação de uma empresa pública de coleta de lixo. Foi eleito com a ajuda de milhares de professores e professoras da rede pública de educação, das merendeiras, do funcionalismo que sua pra dar alguma dignidade à administração desfazendo bobagens de gente oportunista comissionada enxertada no poder público.

Mal completados 6 meses de governo, o espírito do tempo assombra e se instala nas escadarias da sede do poder máximo do município. Azar ou ironia, o que se ouvia na rua era justamente aquilo que Mulim supusera estar a caminho do esquecimento ou do folclore eleitoral. O povo cobrava, cobrava e cobrava do prefeito o que este sabia impossível. Mas, mesmo assim, um tanto atordoado e perplexo com o fenômeno nacional por mobilidade e que-tais, vem a público através da midia amiga local dar explicações e estabelecer datas para saciar o despertar da cidadania.

Eis que sabemos pelo seu lugar-tenente, - espécie de cardeal Richilieu às avessas, e que as más línguas afirmam ser o prefeito de fato, - ele, Sandro Almeida, que a equipe de governo não tinha a menor ideia de como pôr em prática a tarifa a R$ 1,50 nos transportes da cidade. Na ocasião afirmara não poder fazer muita coisa além de aprofundar os estudos de viabilidade orçamentária apenas para o ano de 2014, e que, diferentemente do que havia proposto na campanha, somente uma parcela da sociedade teria direito à 'tarifa social'.

O tempo passou e, ao invés de implantar o programa tarifário prometido, o governo, via decreto concede às empresas de transporte o aumento dos tão temidos e emblemáticos 20 centavos no início deste ano. Fato este que gerou reações ruidosas mesmo que tímidas nos movimentos sociais organizados da cidade, mas também uma revolta surda em toda a população que antes creditava em Mulim alguma credibilidade para tocar as transformações tão almejadas em São Gonçalo.

Não bastasse a Mulim o infortúnio político causado pelos novos tempos em todo o Brasil, vimos aqui em São Gonçalo o quão um governo pode ser inábil até em cuidar do seu próprio quintal. O funcionalismo, que aderiu entusiasmado à campanha do atual mandatário, hoje faz um movimento reivindicatório inédito na história da cidade, cobrando simplesmente aquilo que placidamente o candidato dizia ser possível: restituição de perdas e aumento salarial, profissionalização da burocracia e diminuição radical dos cargos políticos comissionados que, segundo informações da secretaria de administração, chegam a 5 mil, ou 40% de todo o funcionalismo municipal, número extremamente alto de aparelhamento da máquina pública.

Os professores e profissionais da rede de ensino municipal estão em greve desde o dia 25 de março fazendo diariamente manifestações em frente à prefeitura e não há sinais de que pretendam arrefecer o movimento. Pedem melhorias nas condições de trabalho, transparência e descentralização na distribuição de recursos e eleições diretas para as diretorias de escola. Aos professores, semanas depois, se juntaram os Agentes Comunitários de Saúde e mais recentemente os funcionários das secretarias de administração, fazenda e procuradoria.

O ineditismo do movimento  unificado do funcionalismo na cidade só se explica pelo surgimento e amadurecimento das suas respectivas organizações de classe, o SINDSPEF, sindicato dos funcionários efetivos e o SINACS-RJ, dos agentes comunitários de saúde, estes que vieram a se juntar ao velho e até pouco tempo solitário SEPE, dos professores. Os trabalhadores organizados e mobilizados nesta conjuntura pós-eleitoral não entraram no cálculo político do governo Mulin, e o imobilismo do prefeito frente às manifestações é um sinal claro de que falta entendimento sobre o que está acontecendo na sociedade como um todo.

Sobre isso, o vereador Marlos Costa (PT) nos dá algumas pistas acerca dessa São Gonçalo contemporânea:

"O que ocorre em São Gonçalo não pode ser apartado do que ocorre no restante do Brasil em cidades com perfis semelhantes. O ganho de renda dos trabalhadores os elevaram a um outro patamar de conquistas que ora se refletem em exigências nas melhorias do serviço público ora na melhoria de suas condições de trabalho. Os movimentos sociais que no final da década de 1980 e início de 1990 foram desarticulados muito por conta da cooptação do poder público, hoje ressurgem na cidade através da organização dos trabalhadores que não mais aceitam a continuidade de políticas provincianas na cidade. Tenho comigo a convicção de que uma mudança real em São Gonçalo se dará através do surgimento e fortalecimento da sociedade civil organizada, e não de salvadores da pátria que em nada, historicamente, favoreceram a democracia e as instituições. A decisão do prefeito em não dialogar com o funcionalismo frente a frente dá-nos a certeza de que ele não entende o que de novo está acontecendo na cidade. É um erro primário você brigar com a história que se constrói aos nossos olhos."

O também vereador pelo PT, Professor Paulo, presidente da comissão de educação da Câmara, provocado pelo comando de greve dos professores, teve acesso e publicou documento em que constava a relação das escolas e os seus devidos repasses de verbas municipais e do Fundeb. Isso provocou uma reação inusitada da secretária de educação do município, Regina Santos, reclamando formalmente ao prefeito a divulgação de tal documento que é público. A atitude da secretária acabou escancarando a política centralizadora do governo Mulim, desconstruindo o que vinha sendo praticado desde o governo de Henry Charles de autonomia das escolas. A secretária foi exonerada no que foi considerado pelos professores como sua primeira vitória, embora desconfiem das ações protelatórias do governo, em sua velha estratégia de enfraquecer o movimento reivindicatório por inércia.

Mulim, que se nega em receber a sua outrora base eleitoral, o funcionalismo, segue em sua cavalgada eleitoral em eleger o seu irmão Nivaldo para a Alerj. Este, vereador, que renunciou ao cargo de secretário de desenvolvimento social, parece que viu coisa tenebrosa na Câmara pro lado do governo. Os vereadores, que reclamam da postura estafeta do prefeito, não lhe dão sossego. Rejeitaram mensagem do governo - estapafúrdia- que daria às 1.500 vans o direito total e absoluto à bandalha. 14 vereadores deram um nó político no prefeito que está amarrado à lei de concessões de transporte na cidade. A decisão foi técnica, mas os desdobramentos políticos são irreparáveis.

O governo Mulim acabou. Vitória de Pirro.

quarta-feira, 12 de março de 2014

DE IMBOAÇU PARA IM(RUIM)AÇU

Maior obra de infraestrutura e de recuperação ambiental da história de São Gonçalo sofre com incertezas para o futuro




AGÊNCIA AB/JORNAL O GUARDA

As obras do PAC Imboaçu de revitalização urbanística e ambiental do entorno do rio que leva o mesmo nome corre o risco de parar em março. Motivo: falta de pagamento do INEA (Instituto do Ambiente) à empreiteira Odebrecht, responsável pelo projeto executivo do empreendimento que atinge os bairros do Engenho Pequeno, Lindo Parque, Brasilândia, Boaçu e Boa Vista.

Os rumores de paralisação das atividades tomaram o imaginário da população ainda em novembro passado e, já em dezembro, surgiram indícios fortes da própria Odebrecht, que demitiu metade dos funcionários do canteiro de obras localizado na Rua Imboassu. Os cortes continuaram a ocorrer em janeiro e em fevereiro atingindo todo o corpo técnico (engenheiros) da obra. Agora e finalmente a empresa está prestes a soltar um comunicado público e oficial anunciando o fim de suas atividades no sentido de pressionar o INEA e o governo federal para que normalizem os repasses dos recursos, algo em torno de R$ 50 milhões de um total de R$ 96 milhões que é o custo total da obra sem aditivos.

Com a indefinição e paralisação das obras, as famílias que já acertaram sua realocação e que ainda não foram indenizadas sofrem com angústia e ansiedade sobre o seu futuro, além de sofrerem o descaso e abandono das autoridades das três esferas de governo (municipal, estadual e federal) que não se pronunciam sobre o assunto.

O PAC Imboaçu faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2) sob responsabilidade do Ministério das Cidades que repassa a maior parte das verbas (75%) ao estado que gerencia os recursos. As obras começaram em dezembro de 2012 e têm como previsão de  término junho de 2014.

DEMORA NAS INDENIZAÇÕES IRRITA MORADORES


O cronograma original do PAC Imboaçu contempla 600 famílias/imóveis impactados pelas obras. Desse total pelo menos 400 dessas famílias já finalizaram a fase de negociação para terem direito a indenização. Porém, muitas famílias esperam mais que o estipulado (3 meses) para receberem.

É o caso de Wanderson Barroso, que está desde julho de 2012 esperando o cheque do INEA: “Já perdi três casas por causa da demora. O dono do imóvel não espera e vende pra outro. A minha vida virou do avesso”, disse.

Outro problema grave são as invasões pelo tráfico às casas que ficaram vazias e que ainda não foram demolidas nas ruas Aruana (Boa Vista) e Joaquim Vieira de Souza, no bairro do Boaçu.

domingo, 9 de março de 2014

VIVA AO QUE TUDO POSSO!



Na minha trajetória de 38 anos de vida, iniciei o curso de Serviço Social, viabilizado pelo FIES, financiamento estudantil, este criado pelo governo do PT (Partido dos Trabalhadores), o qual está dando a oportunidade para milhões de pessoas e, principalmente e mais da metade mulheres, que, assim como eu, não têm condições de pagar uma Universidade particular, buscar e alcançar seus sonhos, suas metas e certezas por uma vida mais justa e igualitária.

Depois de um breve purgatório fazendo um curso que me mostrou a sua total inviabilidade na proposta em que se deve seguir o compromisso em fornecer o conhecimento, tive um encontro com o agente do destino que possibilitou a minha urgente transferência para fazer algo no qual sempre acreditei, que é a minha formação em um curso superior.

É fácil? Claro que não! Acordo às 6h da matina, faço uma jornada de 8h de trabalho, mas mesmo cansada encontro forças e prazer por estar fazendo o que eu acredito e por uma sociedade mais igual e solidária.

Nesse longo caminho pela busca do conhecimento, tenho apoio incondicional do meu marido-amigo, que ao me conhecer não quis apagar a minha luz e me enfraquecer, mas sim me tornar uma mulher cada vez mais forte.

E assim seguimos...

Cristiana Souza, brasileira, cidadã.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

COXINHAS, ÀS RUAS!



As pessoas me perguntam: haverá manifestações este ano? Sim, haverá, mas com caráter absolutamente diferente das que ocorreram em junho do ano passado. E por quê? Porque desta vez elas serão organizadas pelas (EXTREMA) direita e esquerda político-partidárias deste país, que congrega os de sempre, com a ajuda poderosa da imprensa golpista-corporativa e de organizações estrangeiras que desejam retomar o poder a qualquer custo. Os alvos cristalinos serão o PT, a Dilma, e ele – sempre ele – Luís Inácio Lula da Silva.

E o que essa rapaziada coxinha quer? Melhores serviços públicos, austeridade nos gastos com a Copa, mobilidade urbana? Nada disso mesmo. Essa rapaziada odeia serviço público, não o usa, o negócio é exclusividade. Exclusividade nas tetas do Estado: ‘mamo eu, só eu’, dizem os incautos que adoram um liberalismo no fiofó dos outros. Eles vão protestar na porta do Maracanã, com seus ingressos devidamente comprados, se não forem cortesias das multinacionais ou da própria Globo. Ônibus, metrô? Essa rapaziada não os usa também. Seus carros ficam em algum edifício-garagem superprotegidos dos “vândalos”.

Os coxinhas gostam da rua quando devidamente pautados pela revista Veja. Lá eles se veem, do jeitinho que gostam ser vistos: com aquela luz perfeita que só aquele fotógrafo sabe captar e o editor escolher. Tudo a serviço do Brasil, do Brasil de Higienópolis, Barra e, no máximo, Trancoso ou Porto Seguro. Embora eles queiram mesmo é Miami. Sofrem, porque o Tio Sam ainda não anexou o Brasil ao seu paraíso. Imagina, bugiganga boa não é da Saara e nem da 25 – e muito menos de Alcântara -, só de Miami. Por isso os coxinhas precisam derrubar esse governo de merda que igualou o IOF nas compras em Miami. Ora! se até o Barbosão comprou Ap em Miami... É a glória! Barbosão vai derrubar o IOF e ninguém vai dizer que legisla por conta própria.

Os coxinhas vão pra rua porque realmente acreditam que todos querem ser iguais a eles. Ha, ha; não conhecem o Brasil...

Texto publicado originalmente no Jornal O Guarda. DEZEMBRO DE 2013.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

LIQUIDAÇÃO: TUDO A R$ 1,50 FREGUESA...

Se corre o bicho pega. Se fica, come...



Um fantasma ronda o governo: o fantasma dos R$ 1,50

Todos os prefeitos e governadores estão acuados. Sim, eu falo daqueles que em todo o Brasil foram pressionados pelas manifestações de junho a baixar a tarifa dos ônibus em suas respectivas cidades e estados. Frise-se, que o fio condutor dessas Jornadas de Junho foi justamente a questão da mobilidade urbana exposta pelo Movimento Passe Livre, primeiro em São Paulo, e depois irradiado para todo o Brasil.

São Gonçalo e os gonçalenses, claro, não ficaram de fora dos protestos, foram pras ruas e exigiram do governo, mesmo que tardiamente - a tarifa na cidade subiu de R$ 2,60 para R$ 2,80 em decreto da então prefeita Aparecida Panisset nos últimos dias de seu governo, ainda em 2012 - a redução do preço da passagem nesta freguesia. Porém, o drama político do prefeito Neilton Mulin não se resumia apenas aos 20 centavos da grita geral no país, mas aos R$ 1,50 de tarifa fixa prometida na campanha que o elegeu em outubro de 2012.

Quis o destino que a maior bandeira de luta de transformação na atualidade se centrasse nos problemas urbanos de mobilidade, como qualidade e diversidade do transporte público oferecido à população, alternativas concretas para pôr fim aos insuportáveis congestionamentos e, claro, saber se é legítimo e viável precificar os deslocamentos; neste caso, saber se é possível ou não zerar a tarifa do transporte a fim de fazer valer - pra valer - o direito constituiconal de ir e vir.

No caso do nosso prefeito, o destino pode ter sido ao mesmo tempo generoso e inclemente. Eu explico: afora outros fatores terem sido importantes para a vitória de Mulim, não resta dúvida que suas propostas para a mobilidade urbana tiveram forte apelo junto ao eleitorado, faça ver a reorganização e regularização do transporte alternativo (vans) e, claro, a passagem a R$ 1,50. Pressupõe-se que sua equipe já tinha ou vinha elaborando um plano de ação para essas duas propostas de governo; propostas, que é bom registrar, que só poderiam se tornar efetivas no ano fiscal subsequente ao seu primeiro ano de governo, ainda amarrado ao orçamento do mandatário anterior.

Mas não existe almoço grátis. Estudos preliminares apontam que para chegar aos R$ 1,50, a prefeitura teria que subsidiar o restante do valor de seu apertado orçamento, papo de 182 milhões de reais. Isso não é pouco, querido leitor, é algo em torno de 18% do orçamento atual que é de R$ 1 bilhão. É justamente aí que a porca enrosca o rabo e traz o governo para o árido mundo dos números. Se politicamente essa proposta no início fora bem sucedida, economicamente ela se mostra inviável num momento histórico sensível não só ao governo gonçalense, mas a todos os governos no Brasil.

Tradicionalmente, como você sabe muito bem, as tarifas sofrem reajustes entre o final e início do ano. Prefeitos e governadores se encontram numa situação dificílima e duvido que queiram reviver tudo novamente do que aconteceu em junho, mesmo que para isso façam sangrar os cofres públicos com subsídios ao empresariado de ônibus. Mas mesmo Neilton Mulim não aumentando a tarifa nesta freguesia, o assombrará, durante todo o seu mandato, o fantasma dos R$ 1,50. Será o destino inclemente com este governo promissor que apenas começa?

Exercícios de futurologia são o esporte preferido dos falastrões, que talvez falem mais por torcida do que por ciência dos fatos. No meu entender o prefeito está sendo negligente com esta bomba-relógio no seu colo. O seu staff não está levando muito a sério o que ocorreu em suas barbas, nas escadarias da prefeitura em junho. Há aqui na cidade políticos que acreditam que as manifestações se deram mais por adesismo juvenil, por um arroubo adolescente. Se assim pensa a equipe de governo do prefeito, a coisa degringola.

Penso que desarmar essa bomba é criar um canal de comunicação permanente com a sociedade sobre o tema. Isso é educar, é incluir, é fazer cidadania na veia. Não votei no prefeito, mas o admiro. E sei que ele vem fazendo de tudo para que esta freguesia se desenvolva e aproveite ao máximo os bons ventos que vêm de Brasília, sobretudo na área de infraestrutura. Podemos chegar aos R$ 1,50 como meta, atrelando-o ao crescimento do orçamento da cidade e ao parcelamento da sociedade como beneficiária. Aí sim é possível chegar ao prometido. O resto é uma perigosa lorota. Lorota que será difíciul sustentar até 2016.

terça-feira, 2 de julho de 2013

A PRIMAVERA JUNINA

Interessante análise de um petista filiado e atuante... 



Considerações sobre o declínio dos discursos libertários



Por Maurício Mendes de Oliveira.

            
Na edição do Jornal “O Globo” do dia 22 de junho de 2013, o colunista Luiz Eduardo Soares escreveu um artigo, opinando sobre as surpreendentes manifestações populares que sacudiram o Brasil no mês de junho. Perplexo, como todos os formadores de opiniões, ele em suas linhas emitiu o seguinte parecer:

 “O desconhecido tende a suscitar em nós reações defensivas e explicações que funcionam como a confirmação do que já se sabe - ou se supõe saber. Se o propósito é conhecer, devemos buscar, com humildade, a compreensão auto-reflexiva e a desnaturalização das descrições correntes. Até porque todo esforço de entendimento também é uma ação política.”
              
Essa reflexão é preliminar. Sim isso mesmo, preliminar, pois ele mesmo tem dúvidas sobre o real significado dessas manifestações sociais, que pela primeira vez, não contou com a liderança de partidos políticos, sindicatos e mesmo outras entidades da sociedade civil, ou melhor, corrigindo, foi mobilizada por setores de uma possível “nova sociedade civil organizada”, que se auto-mobiliza via internet, ou mais especificamente, via redes sociais. Essa “Primavera Junina” iniciou-se na megalópole paulista para reivindicar a revogação no aumento das passagens de ônibus e logo ganhou as outras capitais do país e as cidades importantes do interior do Brasil, com múltiplas demandas além do preço das tarifas de transportes. 
              
Considerando que por décadas os sindicatos jamais conseguiram viabilizar uma autêntica greve geral, tal mobilização popular se configura em um fato absolutamente novo, um tanto quanto obscuro, tendo em vista que sou de uma geração que cresceu sob a censura que o regime castrense nos impôs por muito tempo. Por não ter vivido enquanto adulto os “anos de chumbo”, sobrevivi para participar do movimento pelas “Diretas já” em 1984; acompanhar o processo para a constituinte em 1988; mais uma vez participar de mobilizações de rua em 1992 pelo “impechement” de Fernando Collor e assistir a ascensão do neoliberalismo e consolidação do Plano Real em 1994, já nos tempos de FHC.

               
Na qualidade de cidadão politizado (e não “político”, pois é preciso ter “estômago” para tal) e bem consciente das manobras conservadoras das elites brasileiras para se manter no poder, eu achei muito estranho os partidos políticos e sindicatos não estarem à frente dos movimentos reivindicatórios. Achei mais estranho ainda a mídia - tradicional porta voz das classes dominantes - estarem apoiando (num segundo momento) as lutas populares, com o requinte de diferenciar os manifestantes “ordeiros” dos “baderneiros”. Achei igualmente inusitado, o fato das demandas do povo brasileiro serem apoiadas por patrícios que moram nos países centrais, e mesmo, por cidadãos dos EUA e Europa Ocidental, que, digam-se de passagem, sempre nos enxergaram enquanto uma “exótica”, e outras vezes, uma “desprezível” periferia.
                 
Essas súbitas contradições me levaram a uma avaliação preliminar, que de certa forma, foi na contramão dos acontecimentos: imaginei que era uma série de mobilizações orquestradas por segmentos de direita, com o fim de enfraquecer de alguma forma o governo federal. E porque tal raciocínio? Recordando. Eu fui crescendo observando as formas que os meios de comunicação manipulam as massas, em particular, a Rede Globo de televisão que em pleno processo de redemocratização nos anos 1980, ajudou a derrotar Darcy Ribeiro e eleger Moreira Franco para o governo do Rio de Janeiro, e também, derrotar Lula e eleger Fernando Collor na disputa presidencial de 1989. Pode ser uma lógica simplória, mas coerente com esses precedentes.
                      
Todavia, já atingi uma idade suficiente e adquiri instrumentais teóricos para não me deixar seduzir por considerações maniqueístas, pois como bem assinalou Luiz Eduardo Soares, ”todo o esforço do entendimento também é uma ação política”. Assim, esse esforço para a compreensão do que há de velho e de novo nessas mobilizações populares (além é claro do uso das redes sociais), me revela que um mosaico de reivindicações antigas como o combate a corrupção, melhor qualidade na saúde, melhor qualidade de ensino, contra a PEC 37, contra a homofobia, pela reforma agrária, pela democratização da mídia, contra os gastos excessivos e suspeitos dos eventos esportivos, estão lado - a - lado com neofascistas que criminalizam os partidos políticos e sindicatos, além de “baderneiros”, que vão de skinheads até marginais comuns, que somente reivindicam o crime e o terror como filosofia de vida.
                      
Confesso também que caí na tentação preconceituosa de achar que esse movimento fosse mais um “chilique” da classe média, assustada com a volta da inflação, e que de tempos em tempos, bota a “boca no trombone” através dos seus “sarados mauricinhos” e “glamourosas patricinhas”, que vem introduzindo uma espécie de “português cibernético” entre BJS e KKK. Mas não era só isso. A Primavera Junina vem revelando que os outrora tradicionais canais de mobilização como os partidos políticos e sindicatos estão em crise, ou seja, tais acontecimentos vêm indicando que eles estão perdendo legitimidade junto à sociedade civil organizada, que talvez, esteja ocorrendo silenciosamente há uma década, e me parece, que os seus “combativos quadros” não souberam detectar.
                        
E se assim for, tal sintoma aponta para o declínio do discurso libertário proferido pelo Partido dos Trabalhadores e outros partidos de orientação marxista, que de alguma forma, não souberam dar respostas a sociedade que eles se propuseram a transformar. O intelectual italiano Antonio Gramsci em sua obra “Os intelectuais e a formação da cultura”, se atendo a esses segmentos no mundo, escreveu que na América latina, os intelectuais somente sairiam de dois segmentos específicos: as aristocracias rurais e castas militares. E ele estava absolutamente certo. Vejamos: o pioneiro da historiografia marxista no Brasil Caio Prado Júnior era filho de cafeicultores paulistas; Gilberto Freire, formulador da tese da democracia racial brasileira, era filho de usineiros em Pernambuco, e ainda entre nós, Fernando Henrique Cardoso tem sua origem em uma família de militares. 
                       
Na verdade, a direita e a esquerda são de uma forma geral, a face de uma mesma moeda. Sacrilégio? De forma alguma. Eu explico: se a direita sempre enxergou o povo enquanto uma “massa ignorante” que só servia para prestação de serviços a preço barato ou como eleitores para mantê-los no poder político, a esquerda os enxerga como uma “massa alienada e despossuída” que deve ser educada politicamente para ser conduzida a um processo “revolucionário”, ou seja, o desprezo com aqueles que tiveram acesso precário a educação (ou simplesmente não  tiveram) é essencialmente o mesmo,e dessa forma,os indivíduos economicamente falhos e com uma formação escolar deficiente são vistos por ambos os lados como “massas de manobra” ou “garrafas vazias” para algum tipo de uso político,ainda que com  enfoques diferenciados.
                       
Assim,quando em 2003 a “esperança venceu o medo” e Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a presidência da república,abriram-se perspectivas de rompimento com cinco séculos de exclusão social e quase dois séculos de um modelo de estado nacional artificial voltado ao atendimento de  interesses de poucos. E realmente, ocorreram avanços significativos: a instituição definitiva dos Conselhos Setoriais Municipais prometia abrir um canal interativo entre estado e sociedade civil organizada; o programa “Bolsa Família” contribuiu para a resolução do problema da fome que sempre foi endêmica no Brasil; o programa “Minha Casa Minha Vida” prometia ao menos diminuir o problema do déficit habitacional produzido pela urbanização acelerada - e o mais importante - ocorreu à emergência de uma nova classe média.
                         
O problema é que fui percebendo que para viabilizar todos esses avanços pontuais, o Partido dos trabalhadores se sujeitou a uma escalada de alianças ditas “estratégicas” (sobretudo com o PMDB) para se sustentar no governo, cujo leque aumentou tanto, que culminou em acordos com setores dos mais reacionários e venais da política brasileira, como exemplo, o Deputado Federal Roberto Jeferson, que denunciou o episódio do “mensalão” comprometendo vários proeminentes do PT e quase derrubando Lula da Presidência da República. Para se manter no governo e lutar pela reeleição, foram firmados mais concessões, mais acordos, mais conchavos - sempre vistos como “estratégicos” - que foram igualando o PT aos partidos comuns, enquanto uma dissidência fundava o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) aumentando ainda mais a “pulverização” dos partidos de orientação marxista.
                         
Nesse contexto, o PT adere à velha prática consagrada pela direita após a segunda metade do século XX: o “Panis et circensis” ao se candidatar,vencer e abrigar a Copa das Confederações em 2013,a Copa do Mundo em 2014 e os Jogos Olímpicos em 2016.A idéia que o Brasil passara a outro patamar por sediar esses eventos,ou melhor,por ser um dos principais membros dos países emergentes (também conhecidos como BRICS) e por estar seguindo uma política externa com relativa soberania, lhe credenciava a promover esses eventos de vulto,mostrando ao mundo uma nova potência regional no Hemisfério Sul.Enquanto isso,a violência policial grassa nas grandes aglomerações urbanas,o narcotráfico e milícias continuam aterrorizando a população e a degradação ambiental continua e avança tanto nas cidades quanto no campo.
                          
Mas o continuísmo não termina aí e contribui para a silenciosa e lenta desmoralização do governo: os Conselhos Municipais não funcionam, pois ao invés de serem um canal de interação entre estado e cidadão, tornou-se um centro de cooptação de lideranças comunitárias e fonte de renda de ONGs desonestas; o Bolsa Família se solidificou como um mero paliativo e passou a ser objeto de “barganhas” políticas ( e religiosas também) ao nível local,bem como, o programa Minha casa Minha Vida vem seguindo o mesmo caminho.O curioso é que o PT tornou-se nesse período um “partido de massas” graças a filiação de um número incalculável de carreiristas e fisiológicos, cujos “espectros”,se beneficiam com cargos comissionados e verbas para as suas entidades com pouca ou nenhuma representatividade junto as suas ditas comunidades.É muito comum setores importantes como as Secretarias Municipais voltadas ao Meio Ambiente,serem dirigidas por “boçais” que acumulam cargos no estado e no partido.
                       
Tudo isso, vem minando a credibilidade do PT junto à população, sobretudo perante aos formadores de opiniões como alguma idade, já cansados de um discurso panfletário e pouco propositivo (como eu), pois afinal de contas, ouço diariamente referências ao Partido dos Trabalhadores como o “partido da boquinha”, termo imortalizado por Antony Garotinho e reproduzido com sucesso por lideranças comunitárias sem muita alternativa (honesta) de atuação em suas cidades. Além disso, há uma juventude que se organiza nos “Facebook”, ”Twiteres”, ”Orkuts”, ”Youtube” e outros meios para conversar de tudo. Inclusive política. Trata-se de jovens que não conheceram um PT combativo e uma esquerda propositiva - e perigosamente também - não conheceram a ditadura militar e suas mazelas.
                       
Por isso, o que me preocupa não é a falta de lideranças (pois as velhas e atuais que estão visíveis carecem de legitimidade), e sim, esse vazio de segmentos claros que organizam as manifestações, pois estes, podem se direcionar tanto a esquerda (espero que, empreendedora, propositiva e programática) ou à direita (os atuantes fundamentalistas cristãos ou os tímidos neo-militaristas). Em seu artigo, Luiz Eduardo Soares adverte sobre isso na seguinte reflexão:

“O movimento dependerá da capacidade de não confundir rejeição ao atual sistema com a recusa da democracia (...)”
                          
Como bem lembrou a Presidenta Dilma, muitos foram presos, torturados e mortos para que ocorram hoje essas manifestações populares, no entanto, os dirigentes sérios do Partido dos Trabalhadores - bem como dos demais partidos de esquerda com alguma competitividade real como o PSOL - devem fazer uma profunda reflexão se valeu a pena “dançar conforme a música”, e fazer também, uma sincera autocrítica sobre as alianças que foram feitas nos últimos dez anos e romper com esses segmentos enquanto ainda há tempo.Deve apontar firmemente para a realização do plebiscito para ouvir de verdade as demandas do cidadão brasileiro e potencializar a TV Pública e os meios midiáticos sob controle do governo federal,pois na minha ótica, esse “vácuo político-social” está sendo apropriado por setores altamente conservadores que pode inclusive culminar em algum tipo “novo” de golpe de estado. Sim, isso mesmo.Não aquela “quartelada” clássica dos tempos da Guerra Fria,onde o presidente era deposto para dar lugar a um “Gorila’,mas um golpe via congresso,cuja ferramenta,podem ser as redes sociais.Lembrem-se: as redes sociais  mobilizam,mas nem organizam e muito menos politizam.
                          
E por fim, enquanto cidadão politizado - que como a maioria dos brasileiros detesta os “políticos” - tenho de reconhecer que se avançou muito nas melhorias sociais, mas  insisto em afirmar que não é suficiente: eu aspiro por uma sociedade baseada no respeito às leis, onde haja espaço para o cidadão trabalhador, honesto e empreendedor e não uma sociedade onde a corrupção, a “malandragem” e a esperteza deletéria sejam vistas como virtudes,que infelizmente,o PT adotou nos últimos dez anos.
                           

domingo, 9 de junho de 2013

COLABORADORA NOVA!



Freud, o qual podemos chamá-lo de um filósofo da cultura, com a sua teoria do inconsciente achava que sempre havia uma tensão entre o homem e o seu meio. Viria daí os impulsos que regem a vida do homem.

Nem sempre é a razão que governa as nossas ações, e isso nos dias em que vivemos, percebe-se então claramente a  sua afirmação.

Hoje a busca incansável pelo prazer imediato levou a uma total banalização do sexo. Meninas e meninos rotulados como coisas, precisando de coisas para se auto-afirmarem, são o reflexo da sociedade na qual você só tem valor pelo o que se possui e não pelo o que você é.

Sou de uma geração em que o valor de uma pessoa estava em seu bom caráter, dignidade, honestidade e coragem. Eu não preciso de muito para ser feliz, pois tenho internalizados esses valores. E quais valores estão internalizados em você?



A MISÉRIA DA CULTURA EM SG

Os agentes culturais daqui vivem a miséria própria de uma composição  econômica e política frágeis, em que praticamente inexiste organização social atuante, contraponto natural aos humores do poder, do governo. Os poucos ativistas culturais, como agem desorganizados, são facilmente cooptados pela estrutura de governo para servi-lo, e, se dispõem de uma legenda partidária, atuam seguindo interesses pessoais visando valorizar o seu passe nas próximas eleições para sair ou não como candidatos a um cargo público ou mesmo subir na hierarquia de poder que já ocupam.

Desta forma, é impossível sair dos esquemas de compadrio e favorecimento ao grupo que o sustenta. É um ciclo vicioso de difícil superação, já que a própria secretaria de cultura e a FASG não têm uma orientação técnica, que vislumbre as possibilidades amplas e integradas de atuação, coisa que poderia ser implementada com a simples contratação de profissionais efetivos e especialistas na área. Os esforços da secretaria visando sua profissionalização à miúde partiram de exigências externas, sejam do governo federal ou do estado, mas jazem incompletas e viciadas, orientadas apenas a atender uma clientela pequena e difusa. Isso faz com que, por exemplo, esta freguesia seja irrelevante em iniciativas para a área.

O Sistema Municipal de Cultura, veja bem, mofa na Câmara de Vereadores esperando apreciação. Há interesse em pô-lo a funcionar? Não. Pelo menos por parte do governo (qualquer um) e mais ainda daqueles que compõem a própria secretaria, já que o SMC normatiza e estabelece deveres do governo frente ao financiamento da cultura, racionaliza a sua estrutura funcional e impessoaliza as relações dos entes culturais - pelo menos em tese -, o que desmontaria seu arcabouço de poder e de controle atual. Bom, isso vai mudar? Não. Não há organização e vontade políticas para isso.




A VERGONHA PERDIDA

Texto esse que faz parte de minha página no jornal O Guarda. Boa leitura.

***



“Tortura no Brasil? Foram só umas unhazinhas arrancadas.” Lobão falou isso, e tem muita gente, como ele, que perdeu a vergonha. Esse absurdo do Lobão é festa na Globo, Veja etc., corporações de mídia que há muito deixaram de lado a verdade factual para combater o mau combate: preservar a qualquer custo a iniquidade social e os seus privilégios na sociedade brasileira depois da subida ao poder do Partido dos Trabalhadores e de Lula, o alvo-mor a ser caído, tal como um anjo expulso por deus do paraíso.

Fazer troça com um dos períodos mais odiosos da nossa história não é apenas insensibilidade, é canalhice. Adjetivo que muito bem pode ser usado para interpretar a nossa sociedade, ou pelo menos parte dela, encastelada no topo da pirâmide econômica e cultural, apenas uma fração do que nós somos, mas fortes o suficiente para ressoar dos seus veículos de comunicação os seus valores e inclinações políticas. A atitude covarde de Lobão pode ter sido oportunista - ele promove o seu livro - mas encontrou eco e apoio nos grandes jornais e programas de TV sem espaço possível ao contraditório. Isso é sintoma óbvio de enfermidade de nossa democracia.

Os valores mesquinhos da elite brasileira se espalham por todas as classes sociais, se banalizam, são relativizados e criam monstruosidades de parte a parte. Vemos incrédulos uma epidemia de estupros contra mulheres à luz do dia ou à sombra da noite, resultado infame da cultura hedonista e de desvalorização da mulher desde os anos 90,  em que ela própria é um objeto de consumo e símbolo do poder, do dinheiro, valor máximo da vida; vida forjada num ambiente de competição irracional pelo prazer a qualquer custo e permanente. Esse ambiente fez com que os freios sociais à patologia do estuprador desaparecessem. Hoje, segundo relatos, nem castigos existem mais na cadeia, onde nos reconfortávamos com a alheia “vingança”.

Os poderosos, desavergonhados até os ossos, jogaram às favas o pudor e a máxima de Catilina: “Não basta ser honesto, tem que parecer honesto”. Ministros do Supremo Tribunal Federal têm filha e esposa a serviço de uma grande banca de advocacia do Rio de Janeiro que, invariavelmente, tem no STF a instância final onde serão decididas suas ações. Um desvio ético relativizado pelos colunistas a mando de seus patrões. Mas nem mesmo considerações lemos ou ouvimos dos jornalões da chicana do julgamento do famigerado mensalão, que condenou réus ou com provas falsas ou forjadas; condenações sob medida à desforra das elites por não estarem no poder há 10 anos. O “maior caso de corrupção da história” (sic) virou a maior vergonha do judiciário brasileiro. Leia A Outra História do Mensalão, do Paulo Moreira Leite, por favor.

O sem-vergonhismo chegou às raias do inacreditável com economistas tucanos, de amplo espaço na mídia, que defendem abertamente o aumento dos juros e o desemprego como forma de controlar a inflação. Nunca ficou tão cristalino o ódio ao povo, o ressentimento e posicionamento criminoso das elites contra o País. Esse tipo de coisa só é possível graças a criação de uma realidade paralela que abriga uma porção da sociedade não integrada ao Brasil atual, que a detesta, saudosa dos seus privilégios e exclusivismos.

Nelson percebeu nos idiotas a modéstia perdida. Agora, podemos dizer que, além da modéstia, os idiotas também perderam a vergonha. No entanto, um idiota sem modéstia é inofensivo. Mas um idiota sem vergonha, com poder, faz um estrago danado.